terça-feira, 12 de novembro de 2013

O AGRONEGÓCIO SALVA A ECONOMIA E A BALANÇA COMERCIAL DO BRASIL

"Sua safra é uma potência Em nosso mercado e no estrangeiro Portanto vejam que este ambiente Não é pra qualquer tipo rampeiro" (Tião Carreiro e Pardinho)
A Revista Exame, Ed. 1033, ano 47, nº. 21, de 13 de novembro de 2013, tem como matéria de capa: “O Brasil que dá certo: com cada vez mais tecnologia de ponta, a agricultura brasileira dá saltos de produtividade e empurra a economia. Como uma elite de fazendeiros está transformando o campo em referência mundial.” Isso de fato é verdadeiro, e não nos surpreende, como já tivemos a oportunidade de mostrar em vários artigos que publicamos no nosso blog. Na reportagem que se inicia na página 31, a Revista começa informando que “Se há um setor em que o Brasil é incontestavelmente competitivo, esse setor é o agronegócio. O país é visto pelo restante do mundo como um dos principais provedores de alimentos no presente e no futuro. Trata-se de uma posição estratégica. Estima-se que em 2050 o mundo tenha de alimentar 9,1 bilhões de pessoas. Por razões como essas, o agronegócio brasileiro está vocacionado para o mercado internacional.” Ninguém pense, no entanto, que esse sucesso que é hoje o agronegócio brasileiro nasceu de repente. O grande resultado que se colhe hoje é fruto de uma política agrícola que se iniciou na década de 1950 no segundo governo de Getúlio Vargas, que fez a reestruturação da CREAI – Carteira de Crédito Agrícola e Industrial do Banco do Brasil e criou a CFP – Comissão de Financiamento de Produção, instituições que tiveram nos anos que se seguiram um papel dos mais importantes para a agricultura do país. Os governos seguintes, como o de Juscelino - que levou a Capital Federal para o Centro-Oeste, investiu pesado na abertura de estradas e trouxe as primeiras montadoras de automóveis para o Brasil -, e o governo do presidente João Goulart que adotou medidas como a reestruturação do Ministério da Agricultura, a criação da Companhia Brasileira de Alimentos e a Superintendência Nacional de Abastecimento, ampliação da atuação da Comissão de Financiamento da Produção e autorização para que a SUNAB constituísse a CIBRAZÉM – Companhia Brasileira de Armazenamento, aliados aos incentivos dos Governos militares, foram preponderantes para o sucesso que é hoje o agronegócio brasileiro.
Os governos militares, por sua vez, instituíram no Brasil uma Política Agrícola extremamente agressiva, com crédito rural subsidiado em abundância, assistência técnica, seguro agropecuário, política de preços mínimos e armazenamento. Além de tudo isso, criaram a EMBRAPA em 1973, propiciando as condições indispensáveis para a abertura das grandes fronteiras agrícolas da Região Centro-Oeste, responsáveis em grande parte pelo sucesso do agronegócio brasileiro. Como muito bem informado pela referida Revista Exame, página 31, “As exportações do setor atingiram o recorde de 102,3 bilhões de dólares, entre setembro de 2012 e agosto. A China absorveu 21,2% desse total e manteve a posição de maior parceria. Motor do crescimento econômico do país, as exportações do agronegócio também são o principal gerador de saldos comerciais. As vendas externas do setor corresponderam a 43% das exportações brasileiras no mesmo período. O constante aumento da produtividade explica o bom desempenho do agronegócio – apesar das deficiências crônicas do Brasil em infraestrutura.” Como é possível concluir, os números por si só já dizem tudo. Como já é conhecido de todos nós, a balança comercial há muito tempo atravessa dificuldades, apesar do bom desempenho do agronegócio. Portanto, se não fossem as cifras astronômicas advindas das exportações do agronegócio, a balança comercial brasileira certamente estaria em situação periclitante.
Apesar dos resultados altamente animadores, dois fatores mostrados pela Revista Exame são muito preocupantes: a concentração das riquezas do agronegócio e a deficiência da infraestrutura do país. Na verdade, como bem falou a Revista, “Crédito subsidiado, pesquisa científica e tecnologia e extensão rural proporcionaram o forte aumento de produtividade de 2,95% ao ano entre 1975 e 2010 para os cinco principais grãos (arroz, milho, soja e trigo), segundo Elísio Contini, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embraba), em artigo escrito com outros três pesquisadores.” Com essa informação, fica claro que o bom resultado do agronegócio ainda depende de crédito subsidiado, o que até certo ponto é contraditório, pelo menos para os grandes produtores. Essa prática ocorreu muito nas décadas de 1960 e 1970, quando a atividade agropecuária ainda estava em fase de iniciação, o que até certo é justificável. Por outro lado, outro dado que preocupa muito diz respeito à concentração da atividade. Segundo a Revista, “O papel das grandes empresas, que representam 8% do setor e respondem por 85% da produção do agronegócio, é decisivo.” Como se vê, não é razoável que tão somente 8% do segmento do agronegócio detenham 85% da produção. E o pior: ainda dependam de crédito subsidiado, que em última hipótese, é dinheiro do contribuinte. O agronegócio brasileiro é, sem dúvida, altamente promissor. E os dados estão aí para quem quiser vê, bastando que se comparem os números das exportações em 2000, que eram de 20 bilhões de dólares, com os de setembro de 2012 a agosto de 2013, que pularam para mais de 102 bilhões. As cifras por si só já dizem tudo, não havendo necessidade de maiores comentários a respeito. Segundo a Revista Exame, “... o principal destaque de 2013 foi a abertura do mercado japonês, o maior do mundo, para as exportações brasileiras de carne suína, que passaram a ter acesso também ao mercado americano do mesmo produto. O início das vendas de carne de aves do Brasil ao México, grande importador do produto, e a retomada das exportações de carnes para a Rússia, Jordânia, Chile e Peru contribuíram para o bom resultado das exportações do setor.” Registre-se ainda que notícia animadora diz respeito ao fato de que o volume de produção hoje cresce mais em razão do ganho de produtividade de que pelo aumento da área plantada. Segundo ainda a Revista Exame, “Nos últimos oito anos, o Brasil conquistou uma grande vitória na guerra contra o machado e a motosserra. Desde 2005, a média anual de área desmatada na Amazônia caiu pela metade – graças, principalmente, à implantação de um sistema de monitoramento da floresta por satélite, que fortaleceu o trabalho de fiscalização, e à criação de novas unidades de conservação ambiental no norte do país.” E essa é tão somente uma das ações do governo brasileiro, pois várias outras estão sendo implementadas com esse mesmo objetivo, ou seja, aumentar a produtividade, preservando o meio ambiente. Como já afirmado noutro artigo, o agronegócio brasileiro é hoje um sucesso indiscutível. Entre 1990 e 2013, a produção de alimentos quase que quadruplicou, saindo de uma produção de pouco mais de 57 (cinqüenta e sete) milhões de toneladas de alimentos para aproximadamente 200 (duzentos) milhões em pouco mais de duas décadas, sem levar em consideração que o Brasil tem hoje aproximadamente 210 milhões de cabeça de gado. Por todos esses dados que acabamos de apresentar, não temos dúvidas nenhuma de que hoje a economia brasileira e o equilíbrio da balança comercial dependem essencialmente do agronegócio. Por outro lado, entendemos que o governo, se deseja tornar os produtos do agronegócio competitivos no mercado internacional, precisa envidar grandes esforços no sentido de melhor a infraestrutura, com a construção, a melhoria e a ampliação dos portos e estradas, bem como viabilizar o transporte ferroviário e o hidroviário, opções bem mais econômicas de que o rodoviário. Por último, o governo não pode perder de vista a importância da agricultura familiar, a principal responsável pelo abastecimento do mercado interno e pela geração de grande número de empregos no campo, diferentemente do agronegócio de exportação, que aplica alta tecnologia em detrimento da mão de obra no campo.

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