sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

AGRONEGÓCIO E BALANÇA COMERCIAL BRASILEIRA: são US$ 100 bilhões na fatura

"A dificuldade de acesso aos terminais de carga é o principal problema nos dez maiores portos brasileiros, responsável por atrasos na entrega, aumento dos preços e prejuízos às empresas envolvidas nas operações. Além de congestionamentos em rodovias que levam aos portos, falta de pátios para estacionamento de caminhões, planos de movimentação ineficientes e outros problemas em terra, há ainda restrições para a navegação dos navios por conta da baixa profundidade, entraves burocráticos e embaraço na execução de obras." (site globo.com.)
A economia brasileira tem uma forte vocação para o agronegócio, uma atividade que foi fortemente impulsionada pela Política Agrícola do Regime Militar de 1964. E foi mais precisamente na década de 1970 que o Governo investiu pesadamente no setor, oferecendo crédito rural subsidiado em abundância, assistência técnica e extensão rural, garantia de preços mínimos, armazenamento e seguro agropecuário. Esses incentivos foram os motivadores para a abertura das fronteiras agrícolas das Regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte, responsáveis pelo salto gigantesco na produção de grãos, algodão e bovinos, essenciais para a geração de excedentes de produção para a exportação e para a formação de um enorme parque industrial para a extração do óleo e do farelo da soja e outros grãos. A disponibilidade de grande quantidade de farelo de soja e milho permitiu o desenvolvimento de uma moderna e sofisticada estrutura para a produção de suínos, aves e leite, bem como a instalação de grandes frigoríficos e fábricas para a sua industrialização. Em assim sendo, de forma gradual, o país vai pouco a pouco superando os desafios e colocando-se num patamar de destaque em nível mundial. Através da análise, fica constatado que essa realidade não poderia se apresentar diferentemente, haja vista a herança cultural resultante de um povo marginalizado e submisso a uma pequena minoria detentora do poder e das terras. Grandes latifúndios, às vezes improdutivos, representavam o poder e o ‘‘status” de poucos, constituindo-se num grande desafio aos governos no que se refere à utilização adequada da terra para gerar uma maior produção e, conseqüentemente, maiores divisas para o país. Outro aspecto que merece ser ressaltado é ainda a deficiência de infraestrutura, como transportes ferroviários e fluviais, portos modernos e adequados a nova realidade do país, disparidades regionais, carência de transportes, armazéns, profissionais habilitados, dentre outras. Apesar de tudo isso, o país já é uma referência mundial como produtor de alimentos, gerando superávit nas exportações do agronegócio capaz de manter o equilíbrio na balança comercial, tão importante para a economia brasileira. Vejamos o que diz o Jornal Gazeta do Povo em editorial de 19 de dezembro de 2013: “O novo agronegócio não nega suas origens e mostra um Brasil em transformação. Longe de ser uma aposta equivocada, serve de inspiração para outros setores O Brasil está fechando as contas da balança comercial de 2013 com um diagnóstico que se tornou regra há uma década: se não fosse o agronegócio, as exportações não seriam suficientes para cobrir as importações e haveria um rombo bilionário, com forte impacto na economia. A exportação anual do setor chega pela primeira vez a US$ 100 bilhões. Sem essa arrecadação, o déficit de 2013 seria de cerca de US$ 80 bilhões. A constatação seguinte é a de que o país assume perfil de exportador de alimentos, com forte participação dos produtos primários – que têm menos valor agregado. Nessa linha de avaliação, conclui-se que existe algo errado, que outros setores (como a indústria de máquinas, por exemplo) deveriam ser protagonistas nas exportações para garantir mais desenvolvimento econômico ao país.
Porém, o novo perfil do agronegócio, mais industrial e especializado, e a própria maneira como o setor vem atuando no mercado internacional mostram uma situação bem diferente. Tornam-se oportunas reconsiderações que levem em conta esse novo quadro, até para que se compreenda o que está acontecendo Brasil afora. Questão chave é que o agronegócio não se limita aos produtos primários. Embora as vendas de grãos tenham importância decisiva e estejam aumentando todo ano, outros itens – como as carnes, o açúcar, o etanol e o próprio farelo de soja – dão peso aos embarques. E são produtos industriais, que mobilizam também empresas de comércio e serviços no meio rural e na zona urbana. Outra mudança decisiva é a expansão do setor em todas as regiões do país. Hoje a agricultura e a pecuária são atividades especializadas de norte a sul. A migração de produtores do Rio Grande do Sul e do Paraná para o Centro-Oeste e o Centro-Norte completa três décadas com implantação de lavouras até em Roraima, acima da linha do Equador. A disponibilidade de terras permitiu a expansão das lavouras, que somam perto de 55 milhões de hectares cultivados e podem chegar a 100 milhões. Com peso decisivo nas economias de 14 estados, a expansão do agronegócio significa crescimento em âmbito nacional.
E as lavouras são apenas uma ponta do setor, cada vez mais industrializado. Se o Brasil simplesmente seguisse os passos dos países ricos, teria apostado em outro tipo de indústria. A agroindustrialização enquanto alternativa de desenvolvimento está relacionada ao próprio perfil do território brasileiro. E provavelmente por isso evolui continuamente. O Paraná e suas cooperativas são referência para outros estados de como o agronegócio pode se desdobrar em um leque de atividades de extensão ainda sem limites. Do alimento vendido em feiras até a indústria de exportação, os segmentos se multiplicam e acompanham a evolução do consumo. A pauta de exportação, considerando o complexo que abrange soja e milho (os principais produtos da agricultura), ainda tem pouco valor agregado. No entanto, isso não ocorre por uma decisão do agronegócio ou por acomodação das cadeias envolvidas. O setor está seguindo tendências do mercado internacional, como o faz internamente. E as exportações direcionadas à China, que superaram as destinadas à Europa, devem continuar sendo de produtos primários por um bom tempo, por imposição de Pequim. No entanto, ao assumir a liderança na produção e na exportação de soja, o Brasil ganha condições de estabelecer um plano de expansão agroindustrial. Acordos internacionais serão essenciais para que esse plano seja reconhecido e aceito pelos parceiros externos. Uma meta que terá de ser assumida com diplomacia estratégica.
Apesar da forte participação de artigos primários, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio atinge R$ 1 trilhão em 2013, com alta de 3,56%, conforme estudo endossado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). São justamente os artigos primários, com expansão de 6,5% no mesmo período, que sustentam esse índice. O novo agronegócio não nega suas origens, põe US$ 100 bilhões na conta das exportações e mostra um Brasil em transformação. Longe de ser uma aposta equivocada, serve de inspiração para outros setores, que ainda buscam encaixe mais acertado no país e no mercado internacional.” A Revista Exame, Ed. 1033, ano 47, nº. 21, de 13 de novembro de 2013, tem como matéria de capa: “O Brasil que dá certo: com cada vez mais tecnologia de ponta, a agricultura brasileira dá saltos de produtividade e empurra a economia. Como uma elite de fazendeiros está transformando o campo em referência mundial.” Isso de fato é verdadeiro, e não nos surpreende, como já tivemos a oportunidade de mostrar em vários artigos que publicamos no nosso blog. Na reportagem que se inicia na página 31, a Revista começa informando que “Se há um setor em que o Brasil é incontestavelmente competitivo, esse setor é o agronegócio. O país é visto pelo restante do mundo como um dos principais provedores de alimentos no presente e no futuro. Trata-se de uma posição estratégica. Estima-se que em 2050 o mundo tenha de alimentar 9,1 bilhões de pessoas. Por razões como essas, o agronegócio brasileiro está vocacionado para o mercado internacional.” A agricultura é hoje, inquestionavelmente, a atividade mais importante do país, porque, além de gerar muitos empregos, alimenta a população e traz divisas, que são indispensáveis para o equilíbrio das contas externas. Por isso se faz necessário criar condições para viabilizar um melhor acesso à terra e incentivar indiscriminadamente todos os produtores rurais.

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