segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

JUSTIÇA EM APUROS: ENQUANTO O JUDICIÁRIO NÃO AGE, PREFEITO ACUSADO DE PEDOFILIA CONTINUA ABUSANDO SEXUALMENTE DE CRIANÇAS

"O Fantástico denuncia uma vergonha nacional: um lugar onde meninas de 9 a 15 anos sofrem abusos sexuais por parte de um grupo de pedófilos que seria liderado por um prefeito." (g1.com/fantástico).
A denúncia feita ontem à noite, 19.01.2014, pelo Fantástico, de prática de pedofilia por parte do Prefeito Aldair Pinheiro, do Município de Coari, no Amazonas, é revoltante. E o que mais nos preocupa é que nesse episódio há fortes indícios de que a Justiça não tem atuado, como deveria, no sentido de puni-lo na forma da Lei. E o pior: se verdadeira a denúncia, a prática abominável do Prefeito é realizada com a utilização do dinheiro público, que deveria ser gasto em prol do Município e do povo. Não é possível que depois dessa denúncia de ontem, a Justiça do Amazonas ainda continue protelando o andamento dos processos pelos quais respondente o gestor. Um detalhe, no entanto, nos surpreende: é como alguém que responde por setenta processos na Justiça, ainda permaneça como Prefeito de um Município. Somente no Brasil, no nosso entender, isso é possível. A reportagem do Fantástico, por si só já diz tudo sobre o caso. Senão vejamos: “O Fantástico denuncia uma vergonha nacional: um lugar onde meninas de 9 a 15 anos sofrem abusos sexuais por parte de um grupo de pedófilos que seria liderado por um prefeito. ‘Eu tinha 9 anos. E a minha mãe cozinhava no barco. Eu ficava lá brincando, enquanto minha mãe estava trabalhando. Ele me estuprou dentro do barco mesmo, entendeu. Eu fiquei muito apavorada, com vergonha, nunca consegui colocar isso para fora. Hoje em dia, ele quer a minha filha’, conta uma vítima. ‘Ela tem 11 anos, então ele está destruindo a minha vida inteira, porque aconteceu comigo, aconteceu com o meu sangue e agora ele quer a minha filha. É monstruoso demais’. Uma mulher conta e desenha a sua história. O caso acabou de chegar ao Ministério Público do Amazonas. Também chegaram outros depoimentos e vídeos. As autoridades ficaram chocadas com as novas acusações feitas contra um velho conhecido deles, um político que há anos é alvo de graves denúncias de pedofilia. O acusado pela Justiça de crimes sexuais contra menores é Adail Pinheiro. Adail vive na mesma cidade das vítimas. Ele é prefeito de Coari, uma cidade de 77 mil habitantes, às margens do Rio Solimões, no interior do Amazonas. Para chegar lá, é preciso enfrentar uma viagem de nove horas de lancha. Coari é a segunda cidade com maior arrecadação do Amazonas. É também o segundo município com o maior PIB do estado. Uma empresa de petróleo instalada lá levou mais recursos para a região, mas boa parte da população não sente os reflexos disso. Adail é do PRP, Partido Republicano Progressista, e está no terceiro mandato. Foi eleito pela primeira vez em 1999. Em 2008, chegou a patrocinar o desfile de carnaval de uma escola de samba do Rio de Janeiro. Os cariocas cantavam Coari. E Coari, alguns meses depois, foi surpreendida por uma grande operação da Polícia Federal. A polícia acredita que nos últimos cinco anos foram desviados mais de R$ 49 milhões. Na época, os policiais também colheram indícios de que o prefeito Adail Pinheiro chefiava uma rede de exploração sexual que contava com servidores públicos para identificar e aliciar as vítimas. Adail chegou a ser preso. Ficou 63 dias na cadeia, mas foi solto por determinação da Justiça. Depois de prestar depoimento em uma investigação do Senado, foi incluído como suspeito na lista da CPI da exploração sexual infantil da Câmara dos Deputados. ‘Nós temos vários depoimentos que guardam uma coerência absolutamente incontestável, inclusive utilizando recursos públicos para manter uma rede de exploração sexual que ele se beneficia dela; são absolutamente concretos e absolutamente fundamentados’, diz a presidente da CPI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, Érika Kokay. ‘Essa gente não sabe viver em sociedade. Essa gente tem que ser presa para que a gente possa dar uma resposta para a sociedade e mostrar que é possível sim se fazer justiça e desencorajar novas práticas criminosas, principalmente essa que se pratica contra crianças indefesas’, destaca o procurador-geral da Justiça do Amazonas, Francisco Cruz. Setenta processos foram abertos contra Adail. Nada aconteceu com ele até agora. ‘Eu não tenho nenhuma dúvida de que há uma morosidade. Nós estivemos com o presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas. O processo estava absolutamente parado. Ele não tinha caminhado nem um passo’, destaca a presidente da CPI. O Conselho Nacional de Justiça está vindo nesta próxima semana para Manaus para analisar os processos de exploração sexual, inclusive as denúncias contra o prefeito de Coari que já foram feitas há quase seis anos. Os conselheiros querem saber por que, apesar de tantas provas e depoimentos, nada aconteceu com os envolvidos até agora. O Conselho disse que vai responsabilizar os juízes e também transferir os processos caso seja comprovada a negligência.” Como podemos ver, essa história não é nova. Além das denúncias de prática de pedofilia, o sujeito é acusado de desvio de muito dinheiro público, já respondendo por setenta processos na Justiça. Não é possível que, mesmo, assim, ainda permaneça como Prefeito da cidade, livre para realizar todas as suas atrocidades. E o pior: quando indagado pelo Fantástico, o Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas ainda afirma que os processos contra o Prefeito andam muito rápido. Senão vejamos o que falou o Fantástico: “Fantástico: Há alguma rede de proteção ao prefeito de Coari? ‘Eu não conheço. O que eu acho é que todos os processos deles estão tramitando de uma maneira muito rápida. Não há nenhuma proteção ao poder judiciário. Se eu descobrir algum lugar, alguma comarca, alguma vara, que o processo esteja paralisado a respeito desse cidadão, nós haveremos de tomar uma providência enérgica’, disse o presidente do Tribunal de Justiça do AM, Ari Moutinho. Enquanto na Justiça o ritmo é lento, mais vítimas aparecem para depor no Ministério Público. Como a mulher do início da reportagem. A filha dela e uma parente. ‘Eu quero que vocês confiem na gente, que a relação seja de confiança mesmo’, diz uma funcionária. Fantástico: O que ele fez, exatamente? Vítima: Passou a mão assim, depois ficou passando a mão. Depois tirou. Normal. Fantástico: No seu seio? Vítima: Aham. Aí botou a mão na minha cintura. Aí eu fiquei um pouquinho depois e saí. Fantástico: Você achou estranho? Vítima: Sim. Estranho. ‘Ele me levou pro quarto, nossa é muito, muito. Ele me violentou, ele me estuprou, porque eu pedi para ir embora, ele não deixou’, disse a vítima. Fantástico: Nessa época você tinha que idade? Vítima:’Tinha 10 anos. Alguém, tem que parar esse cara, ele é terrível, é um doente, ele é um monstro tem que parar esse cara’. A denúncia mais recente chegou ao conselho tutelar de Coari no fim de 2013: uma menina de 13 anos contou que estava sendo obrigada pela mãe a ter relações íntimas com o prefeito em troca de dinheiro. ‘A denúncia diz que ela chegou a ser levada até a residência do prefeito’, disse o conselheiro tutelar José Alberto dos Santos.” É por essas e outras ocorrências que os brasileiros desacreditam nos políticos e nas nossas autoridades de um modo geral. Não é possível que um elemento como esse reine absoluto por tanto tempo, estuprando e violentando crianças no Município do qual é Prefeito, sem nenhuma punição. Isso, convenhamos, é inadmissível.

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