quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

O FENÔMENO DO CANGAÇO E O DA VIOLÊNCIA DE HOJE NAS GRANDES CIDADES: AMBOS TÊM COMO CAUSAS QUESTÕES SOCIAIS SEMELHANTES

           "Lampião me disse, que o forró daqui é bom. Têm gente bonita, nunca viu nada igual. Que já andou o sertão a procura de um amor. Foi nesse forró, que Maria ele encontrou. Lampião, o forró daqui é bom. REFRÃO Lampião o forró é bom demais. Cutuca o sanfonero, não deixa ele cochilar Belisca o zabumbeiro, pra não parar de tocar Acorda o do triângulo para o ritmo marcar Que a Maria bonita tá chegando par dançar REFRÃO." (Lampião - Forró Maria Bonita).
           Segundo Josué Duarte, “Nada acontece por acaso. Se investigarmos as causas e consequências, encontraremos resposta as nossas indagações.” E é o que pretendemos fazer através desse pequeno artigo, que esperamos sirva como ponto de partida para a reflexão de estudiosos. Por sua vez, não podemos nos esquecer que, como muito bem afirmou Thomas Hobbes, "O homem é o lobo do homem." Esse fato, com absoluta certeza, tem um significado muito relevante.

           E é começando por essas duas frases que pretendemos iniciar um raciocínio que nos leva a associar as causas do cangaço no sertão nordestino, entre o final do sec. XIX e início do sec. XX, às que resultaram na onda de assalto a bancos nos interiores e violência das grandes cidades nos dias de hoje. Por favor, sigam o nosso raciocínio. A História do Cangaço é uma das poucas coisas que ainda trazemos viva na memória do que nos era contado pelos nossos avós. E ao contrário do que muita gente pensa, os cangaceiros nem sempre eram hostilizados pelos moradores do sertão. Pelo contrário: muitos deles foram admirados, respeitados e tidos como verdadeiros heróis.

           E ressuscitamos esse tema porque algumas vezes nos perguntamos se o fenômeno do cangaço de fato desapareceu, ou se tão somente transmutou, ou seja, saiu das caatingas do sertão nordestino para os grandes centros urbanos, com uma nova roupagem e outra denominação. O fenômeno do cangaço, como todos nós sabemos, teve como origem os problemas sociais da época, como falta de perspectiva de vida, miséria, sujeição aos coronéis, trabalho escravo, dentre outros. Alguns indivíduos, como dizem ter sido o caso de Lampião, indignados com a situação, rebelaram-se, formaram grupos e, dali em diante, escolheram a bandidagem como alternativa de vida, tendo como alvo, em determinadas situações, os grandes latifundiários. Outros, ao contrário, aliavam-se aos coronéis para defendê-los e prestarem todo tipo de serviço sujo. E existiram ainda aqueles que nem formavam grupos, nem prestavam serviços a fazendeiros. Tão somente se isolavam e saiam sertão afora praticando assaltos a fazendas e outras bandidagens. Vejamos o que encontramos no site www.conheçasergipe.com.br:

            “O Cangaço foi um fenômeno ocorrido no nordeste brasileiro de meados do século XIX ao início do século XX. O cangaço tem suas origens em questões sociais e fundiárias do Nordeste brasileiro, caracterizando-se por ações violentas de grupos ou indivíduos isolados: assaltavam fazendas, seqüestravam coronéis (grandes fazendeiros) e saqueavam comboios e armazéns. Não tinham moradia fixa: viviam perambulando pelo sertão, praticando tais crimes, fugindo e se escondendo. O Cangaço pode ser dividido em três subgrupos: os que prestavam serviços esporádicos para os latifundiários; os ‘políticos’, expressão de poder dos grandes fazendeiros; e os cangaceiros independentes, com características de banditismo.”

           Lembramos desse tema e o associamos ao que hoje ocorre, principalmente nos grandes centros urbanos, porque as questões sociais do nosso país ainda não desapareceram nem irão desaparecer tão cedo. E, se pararmos para pensar um pouco mais, facilmente iremos concluir que muitas das mazelas que existem hoje nas grandes cidades brasileiras estão associadas aos malefícios do êxodo rural. Só que hoje, aqueles que perderam as suas terras para os grandes fazendeiros, e os que ficaram desempregados em razão da modernização das atividades do campo, não buscam mais o sertão, salvo em algumas situações. O destino agora são os grandes centros urbanos. E não só isso. Bandos que assaltam bancos, espalhando o terror pelas cidades do interior. E, sem dúvida nenhuma, como os expulsos das suas terras e dos seus afazeres não encontram trabalho, nem moradia digna, nem meios de sobrevivência, resta-lhes, como alternativa, morarem nas favelas e dedicarem-se a furtos, assaltos, latrocínios e tráfico de drogas.

           Enfim, trocaram o sertão pelas favelas, e os assaltos a fazendas por assaltos a bancos. Vejamos o que encontramos no site queimaroupa.com.br:

           “Em vários estados da federação, uma nova categoria de assaltos a bancos vem causando terror a cidades interioranas e, embora, o secretário de Segurança Pública baiano já tenha declarado considerar essa onda de ataques a agências bancárias como ‘crimes de verão’, a verdade é que estamos diante de um fenômeno que, devido ao modo como os criminosos agem, ‘tomando conta da cidade’, em alguns estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins já foi denominado de o ‘novo cangaço’. Esse novo quadro de violência que teve início na década de 1990, no nordeste brasileiro, foi migrando para outras regiões como o Centro-Oeste e, entre nós, desde 2010 é noticiado com certa regularidade pela grande mídia, a exemplo do que aconteceu na manhã da última segunda-feira (9), quando a pacata cidade de Castro Alves, a 190 quilômetros de Salvador, viveu momentos de terror ao ser invadida por um bando armado que assaltou a agência local do Banco do Brasil.

         O ano de 2012 mal começou e já registra sete assaltos a agências bancárias na Bahia, a maioria no interior, e o alvo preferido dos assaltantes é o Banco do Brasil. Mas o ano de 2011 é que foi recorde em número de ataques a bancos em nosso estado. Segundo dados do Sindicato dos Bancários, no último ano foram registradas 110 ocorrências, sendo 82 assaltos, 14 em cidades do interior, e 28 explosões de caixas eletrônicos.    Os dados superam os anos anteriores, pois, no ano de 2010 foram 60 registros e em 2009 e 2008, 44 e 48, respectivamente.”

          Como é possível vermos, são fenômenos estranhos que, de um modo ou de outro estão associados às questões sociais, ainda, infelizmente, muito presentes na sociedade brasileira. Informa o site www. Conheçasergipe.com.br: “Os cangaceiros conheciam a caatinga e o território nordestino muito bem, e por isso, era tão difícil serem capturados pelas autoridades. Estavam sempre preparados para enfrentar todo o tipo de situação. Conheciam as plantas medicinais, as fontes de água, locais com alimento, rotas de fuga e lugares de difícil acesso.”

           Situação semelhante acontece em relação às favelas, onde as ações da Polícia restam dificultadas pelo desconhecimento. Afirma ainda a matéria encontrada no referido site: “O primeiro bando de cangaceiros que se tem conhecimento foi o de Jesuíno Alves de Melo Calado, ‘Jesuíno Brilhante’, que agiu por volta de 1870. E o último foi de ‘Corisco’ (Cristino Gomes da Silva Cleto), que foi assassinado em 25 de maio de 1940.”

           Para aqueles que não sabem, tanto Jesuíno Brilhante, quanto Corisco foram cangaceiros de grande fama no sertão nordestino. Ouvimos muitas histórias a respeito de ambos. De qualquer modo, nenhum outro teve tanto brilho quanto Lampião, por isso que ainda informa o aludido site:

“O cangaceiro mais famoso foi Virgulino Ferreira da Silva, o ‘Lampião’, denominado o ‘Senhor do Sertão’ e também ‘O Rei do Cangaço’. Atuou durante as décadas de 20 e 30 em praticamente todos os estados do Nordeste brasileiro. Por parte das autoridades Lampião simbolizava a brutalidade, o mal, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população do sertão ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra.”

Como podemos ver, muito embora muito se fale sobre as maldades de Lampião, para uma grande parcela do povo, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra. E nesse ponto, se pararmos para melhor analisar, veremos que até nisso há semelhança com certos bandidos de hoje, como aqueles que, mesmo presos, continuam comandando as suas quadrilhas de dentro das prisões.

           Para que entendamos melhora a matéria aqui abordada, trouxemos ainda parte de matéria encontrada no site www.eunapolis.ifba.edu.br:

          “O primeiro dos grandes bandos independentes foi o de Antônio Silvino (1875), pernambucano que, desde jovem, na última década do século XIX, se dedicara ao cangaço a serviço da família Aires. A partir de 1906, afastou-se das lutas políticas e dos conflitos entre famílias, passando a lutar pela dominação armada de áreas do sertão. Atuou em Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, espancando, assassinando, cobrando tributos e saqueando. Ferido em 1914, durante combate, foi preso e condenado a trinta anos de prisão em Recife, sendo indultado em 1937. Virgulino Ferreira, o Lampião, o mais famoso de todos os cangaceiros, assumiu a chefia de seu bando em 1922. Por causa da organização e disciplina que impunha seus cabras, raramente era derrotado, além do fato de aparecer perante a população sertaneja como um instrumento de justiça social, procurando, dessa forma, justificar seus crimes, que atingiam pobres e ricos indistintamente. Morreu em combate em 1938. Outros cangaceiros famosos foram Jesuíno Brilhante (1844-1879), cearense, morto em luta com a polícia; Lucas da Feira, baiano, enforcado em 1849; José Gomes Cabeleira, pernambucano, e Zé do Vale, piauiense, igualmente enforcados nas últimas décadas do século XIX.
           Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião. Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião. A extinção desse fenômeno social foi consequência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como consequência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.”

           De início as fronteiras agrícolas ofertaram muita mão de obra, só que hoje, com a modernização da agricultura, as principais lavouras dependem pouco do trabalho manual, por isso, muitas famílias foram expulsas do campo para os grandes centros urbanos, gerando sérios problemas sociais, uma vez que essas pessoas que saem das suas terras não estão preparadas para os empregos que são oferecidos nas cidades grandes. Como consequências, ocupam as favelas e começam a delinquir, único meio de sobrevivência de que dispõem. Registre-se, por último, que muitos bandidos perigosos que hoje afrontam as grandes cidades são egressos do interior do Nordeste, como é o caso de Elias Pereira da Silva, natural de Lagoa na Paraíba, mais conhecido como Elias Maluco. É um dos maiores traficantes de drogas do Rio de Janeiro, hoje encarcerado. Foi preso em 19 de setembro de 2002, após uma caçada humana de três meses, na sequência do assassinato do jornalista Tim Lopes. Integrante da facção criminosa Comando Vermelho, comandava o tráfico de drogas em trinta favelas das imediações do Complexo do Alemão e da Penha, sendo acusado pela morte de mais de sessenta pessoas.

           Elias Maluco é ainda considerado como um dos responsáveis pelas ondas de violência que abalaram o Rio de Janeiro em dezembro de 2006 e novembro de 2010. Não temos com esse pequeno artigo nenhuma pretensão de esgotar o assunto, e muito menos provar que somos o dono da verdade. A nossa ideia é tão somente lançarmos uma luz sobre as possíveis causas da violência que assola hoje as grandes cidades, visando com isso despertarmos o interesse de outras pessoas sobre o assunto. Estamos abertos para receber críticas e sugestões.

Nenhum comentário: