quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

REFORMA AGRÁRIA SEM DEMORA. PEQUENOS AGRICULTURA SOFREM PRESSÃO PARA ABANDONAR SUAS TERRAS




  Ao longo dos últimos quarenta anos, o agronegócio brasileiro teve uma evolução surpreendente. O que preocupa, no entanto, é que as riquezas do campo ainda são muito mal distribuídas. E como o agronegócio para a exportação tem apresentado resultados altamente positivos na balança comercial, vê-se o Governo a cada dia mais refém desses negócios no exterior. 

Como a agricultura para o exterior sempre recebe maiores incentivos de recurso, quando comparados com a agricultura para consumo interno, tende a cada dia a acentuar ainda mais a distância entre os grandes e os pequenos produtores, favorecendo a expulsão dos menores das suas terras para ceder espaço aos maiores, provocando o êxodo rural, em detrimento da já caótica situação dos grandes centros urbanos. E isso é verdadeiro. E a confirmação encontramos na matéria encontrada no site da Revista Globo Rural com o título de “Pequenos agriculturas sofrem pressão para abandonar terra diz pesquisadora”.Senão vejamos:
      
“Os pequenos agricultores e as comunidades tradicionais brasileiras sofrem constante pressão para abandonar a terra. Isso ocorre porque ela é um bem valioso, disputado com o agronegócio e seus interesses, e ainda, em razão de dificuldades econômicas e falta de políticas públicas que assegurem a permanência no campo, como oferta de saúde e de educação. A avaliação é da pesquisadora Leonilde Medeiros, professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). De acordo com ela, o perfil do campesinato brasileiro é migrante. Diferentemente dos camponeses europeus, mais enraizados, no Brasil, o homem do campo' precisa esforçar-se para permanecer na terra.” 

            Essa matéria confirma ainda a nossa tese já levantada noutros artigos de que o Governo brasileiro prioriza mais agricultura de exportação de que a agricultura para consumo interno. E isso é lamentável. Mas não há como negar. E tanto é verdade que a agricultura para exportação, como acontece com a cultura da soja, cresce seguidamente, enquanto outra cultura como a do arroz, voltada basicamente para o consumo interna, teve redução de área plantada da última safra para a safra 2013/2014. Vejamos o que diz ainda a matéria da Revista Globo Rural:
   
“’O (camponês) brasileiro é muito migrante, é constantemente expulso. Aconteceu com posseiros, pequenos proprietários e setores que estão lutando para permanecer em suas terras tradicionais, como índios e quilombolas. (Esses grupos) estão sempre em uma relação muito precária com a terra. (É assim) desde o princípio da colonização. A história do Brasil é uma história de conflito agrário’, destaca Leonilde. Segundo ela, o avanço do agronegócio criou ainda mais tensões para os pequenos agricultores. ‘Hoje, no Brasil e na África, a terra é a grande frente do agronegócio. O Brasil é um dos poucos países do mundo que ainda tem algumas terras disponíveis. O perfil na América do Norte e Europa é mais estabilizado’, explica a pesquisadora.” 


            De fato tem razão a pesquisadora Leonilde, uma vez que o acesso às terras no Brasil sempre se processou de maneira desigual, evidenciando a influência do poderio econômico dos grandes latifundiários. É um problema com raízes profundas na história brasileira, desde o período da colonização. Inicialmente, com a posse da terra Brasilis pelos portugueses. Posteriormente, na tentativa de colonização, foi implantado o sistema de capitanias hereditárias, cuja distribuição de terras foi feita em forma de doações a portugueses que tinham grandes posses. A Revista Globo Rural afirma ainda:

“Leonilde Medeiros é uma das palestrantes, que discutem a situação de pequenos agricultores e ocupantes de terras tradicionais no seminário Dinâmicas e Perspectivas do Campesinato no Brasil no Século 21, organizado pelo Movimento de Pequenos Agricultores (MPA), em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário. Os debates começaram na terça-feira (18/2) e vão até sexta-feira (21/2). Segundo a professora, que participará hoje (19/2) de mesa-redonda sobre contradições sociais no campo, embora o conflito agrário seja o principal fator de pressão para pequenos agricultores, as questões financeiras e a escassez de políticas públicas também devem ser levadas em conta.

Essa má distribuição das riquezas do campo tem trazido sérias conseqüências, em grande extensão ao longo do tempo, haja vista a triste constatação de o Brasil ocupar uma posição de destaque entre os países que atualmente apresentam o maior desequilíbrio social. É grave a questão fundiária no Brasil e de difícil equacionamento, porque é na grande propriedade rural que se produzem as supersafras de grão e vivem os grandes rebanhos bovinos, indispensáveis para manter o volume de exportação e alimentar a população dos grandes centros urbanos. E é por isso que razão a pesquisadora Leonilde, como expõe a matéria da Revista Globo Rural. Senão vejamos:

“‘Eu acho que um dos elementos chave (para resolver o problema) é a retomada de um programa amplo de reforma agrária. Sem nenhuma mudança legal, basta obedecer à Constituição, que diz que o campo deve ter função social. A segunda questão é garantir com políticas de crédito, educação e saúde, que os pequenos proprietários permaneçam. Eles (agricultores) têm crédito para produção, mas às vezes têm dificuldade para escoá-la. Também têm uma estrutura muito frágil’, diz.” Quanto a isso não há porque alguém ter dúvida.” 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, de há muito pressiona as autoridades brasileiras sobre o porquê de a política de assentamento de trabalhadores rurais adotada, no momento, caminha em passos muito lentos, não atendendo, desse modo, às expectativas dos que necessitam de terra para trabalhar. As tentativas já realizadas no sentido de redistribuir terras através de financiamentos também não satisfizeram os anseios dos necessitados, daí por que a sociedade tem uma sensação de que a reforma agrária brasileira é apenas uma ficção. Segundo a Revista Globo Rural:

“Anderson Amaro Silva dos Santos, da direção nacional do MPA, confirma que a estrutura para garantir a sobrevivência e desenvolvimento dos assentamentos rurais existentes é precária. ‘Tem muitos assentamentos, em vários estados, bem estruturados e produzindo. Mas há famílias assentadas há dez anos sem nenhum tipo de estrutura. (Situações assim) passam de 50% (do total de assentamentos’. Anderson diz ainda que tem havido poucos assentamentos novos nos últimos anos.” 

            Como podemos ver, o pessimismo do MST em relação à Reforma Agrária não é sem razão, tanto que o fato é confirmado por Anderson Amaro Silva dos Santos, da direção nacional do MPA. E em complemento ao que afirma a pesquisadora e o senhor Anderson, afiram a Revista Globo Rural:
  
“O diretor do Núcleo de Estudos Agrários de Desenvolvimento Rural do ministério, Guilherme Abrahão, diz que, apesar das alegações de que ainda falta estrutura, a política agrária tem avançado em questões de seguridade social, educação, crédito e assistência técnica. ‘Em uma análise, o que nós podemos dizer é que não queremos fazer assentamento pelo assentamento. O acesso [à terra] é importantíssimo, mas só a terra não garante. O que mudamos nesse último período é a configuração para além do acesso à terra. Avançamos na forma de fazer reforma agrária no Brasil’, declarou.”

A vitória do presidente Lula nas eleições de 2002 reacendeu as esperanças dos trabalhadores rurais sem terra, o que de certa forma motivou mais uma enorme frustração, tendo em vista que naquele governo e no atual da Presidente Dilma, o número de assentados tem sido bem menor do que no governo de Fernando Henrique Cardoso, que nos seus oito anos de mandato distribuiu terras para cerca de 500 mil trabalhadores rurais.


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