sábado, 30 de setembro de 2017

VIOLÊNCIA URBANA: UM PESADELO QUE PARECE NÃO TER FIM



Além dos inúmeros outros problemas que afetam a vida dos brasileiros, a violência é hoje um dos que mais preocupam. O que muitos talvez não saibam é que esse fenômeno não surgiu do nada, nem apareceu de repente, sem mais e nem menos.   

Nenhum problema social de grande magnitude nasce isoladamente. O que as pessoas precisam saber é que esse pesadelo que estamos vivendo hoje é fruto de políticas públicas equivocadas, que foram sendo implementadas ao longo do tempo, começando pela má distribuição das nossas riquezas do campo, fato que ensejou uma verdadeira debandada de pessoas da zona rural para as grandes cidades, principalmente entre os anos 1960 e 1970. Mas não é só isso, claro. Existem várias outras razões, como a má qualidade da nossa Educação, a desigualdade na distribuição de renda de um modo geral, o baixo crescimento da economia, que não gera emprego suficiente para absorver os trabalhadores disponíveis no mercado de trabalho, dentre outros.    

Em outras ocasiões já tive a oportunidade de falar especificamente sobre o êxito rural que muito se acentuou a partir da década de 1960, causando inchaço nos grandes centros urbanos, que não estavam estruturados para receber milhões de pessoas num curto espaço de tempo. Com isso houve o crescimento vertiginoso das favelas, nas quais muitas pessoas passaram a viver sem escolas para educar os filhos, sem emprego ou com subempregos e sem nenhuma perspectiva de futura.

E não é só isso. Com o passar do tempo, o que seria muito natural, surgiram os inevitáveis problemas de desestruturação de muitas famílias, com reflexos extremamente danosos na formação dos filhos, que sem amparo dos pais, sem escola para estudar e sem futuro, transformaram-se em moradores de ruas e em pedintes como meio de sobrevivência. 

Quem leu o livro Capitães da Areia de Jorge Amado provavelmente entenderá mais facilmente o resultado de crianças criadas nas ruas, que começam a vida como pedintes nos sinais de trânsito e acabam como criminosos perigosos. E hoje mais facilmente isso acontece em razão das drogas. Se a criança não recebe atenções dos pais no devido tempo, não freqüenta escola e não vislumbra uma perspectiva de futuro melhor, evidente que fica muito mais vulnerável às influências negativas.

Já está suficientemente provado que mais do que a pobreza em termos absolutos, é a desigualdade social um dos fatores relacionados à violência. Se a Educação é capaz de impactar na diminuição da desigualdade, não há dúvida nenhuma de que também contribui para uma sociedade menos violenta. Nassir Abdulaziz Al-Nasser afirmou certa vez que “a Educação é fundamental para tratar da ignorância e desconfiança que estão no cerne do conflito humano. A Educação ajuda a superar estereótipos e intolerância, e a vencer a batalha contra a ignorância”. E é isso mesmo.

Por sua vez, ninguém pode esquecer que aqui no Brasil temos como agravantes dessa situação ainda os maus exemplos que são dados pelos muitos políticos e empresários que se envolvem com freqüência em escândalos de corrupção, quando são  desviados vultosos valores de recursos públicos e quase sempre acabam sem punição, principalmente quando os envolvidos são detentores de foro privilegiado.   

O fato é que a violência, como estamos vendo diariamente pela imprensa, tomou um caminho praticamente sem volta. E essa situação, lamentavelmente, não será revertida facilmente, nem num curto espaço de tempo. Felizmente a reversão desse quadro seria possível, sim, desde que os Governos - estaduais, municipais e federal -, priorizassem, sobretudo a educação, criassem empregos, investissem em segurança pública e melhorassem a distribuição de renda. E isso, como de antemão se pode antever, não ocorrerá tão facilmente. 

O que preocupa é que neste Brasil de “Lava-Jato”, onde os políticos, em vez de se preocuparem com políticas públicas, visando uma melhor distribuição de renda, cuidam dos seus próprios interesses e dos interesses de grandes grupos empresariais, dificilmente conseguiremos superar a crise da violência, que transformou o cidadão de bem em presidiário dentro da própria casa, sem necessidade de tornozeleiras eletrôncas, o acessório de monitoramento à distância que passou a decorar as pernas dos envolvidos com o megaesquema de corrupção na Petrobrás.